terça-feira, 24 de julho de 2007

Livro da Saudade

O sujeito poético inicia a sua viagem através da saudade, tenta explicar porque foi trocado por outra flor mais cuidada. A viagem (saudade) prosseguirá, ora mais calma, ora mais conturbada, para terminar numa pantomina de palhaço e, por fim, num dobrar de sinos. A Saudade arde numa pira e as cinzas são espalhadas pelas águas do oceano. Terminou a viagem!











Livro da Saudade

No teu jardim

No meu silêncio cheio de nada
Oiço o que a tua boca cala
Mas o teu corpo grita...
Dos teus dedos pinga o mel
Que eu não colho!
E a vertigem nua,
Ceifada na minha intimidade,
Se vestiu de prazer
Em outras entranhas...
No teu jardim, a brisa corre,
Arrepia as minhas pétalas
De flor singela...
Mas só a flor repleta de néctar
Atrai o sol
E as borboletas que te nascem nos lábios
No canteiro que mais cuidas!
Ela estremecerá sob as tuas mãos
E, na suavidade do arco-íris,
Aspirarás o exotismo da sua voz...
Nas minhas pétalas selvagens
O pudor desenhou um não...
Veio o vento...
Veio a chuva,
Desfolhou-me!
No espaço do teu jardim a noite caiu,
Definitivamente!...

Manto

Deixo escorrer os olhos pelo tempo...
Revivo emoções...
Inundam-me a alma em voo livre,
Evaporam-se-me na pele!
Aspiro os resíduos sólidos,
Pedaços de ti,
Devaneios colhidos numa Primavera serôdia!
Voo na tua ausência
Em crepúsculos atrasados...
Por instantes,
Devaneios estonteantes
Acariciam-me o rosto.
A brisa dos sentimentos
Lança-me no rosto
O aroma da tua presença...
Mas a corrente das sensações
Afoga o coração,
Destrói os diques do amor,
Arrasta a afronta e o despeito,
Trespassa-me a alma,
Salta a colina da paz,
E desce aos vales da dor!...
E não há fantasia,
Arrepio
Ou suspiro
Que desagúe na minha noite
Vazia de coxas perfumadas de maresia!
E o meu querer veste-se de vulnerabilidade!
Nua, perante a tua noite,
Deixo cair sobre mim
O manto vago do fim!

Emoções

A manhã rende-se ao vento Sul...
Sem pudor, veste-se de negro...
Sensual, busca a Lua
Mas ela foi-se!...
O sol brilha...
Num trono de diamantes,
Ofereço o meu corpo às tuas mãos...
Centelhas de emoções
Gritam o teu nome
Mas a distância amanheceu em ti!
Perco-me nas minhas ousadias,
Perco-te nos teus êxtases
Lançados à saudade,
Abraçados a outros sonhos!
Estendo as minhas mãos
E apenas encontro fios de dor
Que caminham para o Infinito!
Tacteio a tua boca
E encontro pétalas de vento
Correndo para o Paraíso!
E a minha voz cruza os céus,
Toca-te a pele,
Sussurra ao teu ouvido
Que habito a Noite
E o Silêncio...
E nem as mãos do meu pensamento
Te conseguem afagar!

Essências

Entre os meus cabelos desalinhados
Encontro os teus dedos
Macios
Sussurrando na minha pele
Carícias esquecidas!
Dentro dos meus olhos
Encontro o murmúrio
(e o silêncio!)
Do teu rosto!
Pestanejas sorrisos que me aquecem a alma
E estendo-te os meus lábios de fogo
Numa prece de caminhos trilhados
No meu corpo
Pelo teu...
Ainda procuro a boca que me desnudou
E, entre lençóis brancos,
Desceu a colina dos meus seios
E se precipitou na foz do meu prazer...
No meu corpo vazio de ti
Ouve-se o eco dos sons
Que no silêncio do quarto nu
Entoámos em horas só nossas...
E, na solidão das minhas coxas,
Evaporam-se essências esquecidas,
Borbulhantes de loucuras a dois!

Confessa

Espreito-te no longe,
Chamo-te entre as brumas do tempo...
Mas as penumbras da memória,
Perpetuada pelo deslizar dos meus dedos no papel,
Escondem-te atrás de ti!
Vem...
Mostra-te no teu sorriso,
Perfuma-me com a tua voz quente,
Fala-me do tempo do Amor
E volta a dar-me a mão!
Leva-me contigo para dentro do teu abraço
E da minha fantasia!
Confessa ao meu ouvido
Quantos beijos ofereces ao meu silêncio!
Sussurra-me o prazer do sonho
Que espreitas em mim!
Beija as minhas sensações
De pele perfumada,
Amanhecida
Na alvorada tranquila
De um livre divagar...
Diz à lua
Baixinho, baixinho...
Palavras de desejo...
Por mim!
E enfeitiça o meu sono!

Ausência

Abraço a doce saudade,
Do teu extasiante sol poente em mim...
Ofusco-me nas centelhas de prazer
Que as tuas ousadias lançam ao céu
E seduzo-te no planeta das emoções,
Na galáxia da minha paixão!
Estrelas reluzem e cintilam no teu toque,
A pele da minha alma suspira
Ao compasso da voz do teu amor em mim,
Qual reflexo da essência do tempo!
Copio uma fantasia
Lida nas estrelas
Que espalhaste no céu do meu desejo...
Despes-me em carícias enfeitadas de lírios brancos
Enlaçadas na luz dos teus dedos
E nascem no meu corpo
As mãos da tua alma...
Acaricias-me em conquistas mágicas
De encantamento e perdição...
Caminho ao encontro da minha ilusão
E encontro-te dentro de mim!

Saudade

Abro os braços à noite,
Ao alvoroço sufocante
Da minha pele passeando em ti...
Estendo as asas da saudade,
E liberto o carinho com que te enlaço!
Prendo-te no fio de seda que solto do meu abraço
A caminho de nós...
Roço-te o ventre com a língua do pensamento
Impulsionando o teu aroma
Para os beirais do meu desejo...
Desvendo-te gotas de prazer
Escorrendo em mim
E desfruto-as no feitiço das minhas palavras!
Sugo-te o fulgor da alma
Suspensa nos lábios
E beijo cada pingo de mel
Que se te afunda na pele!
Cheiro o calor da tua paixão
Queimando a minha voz
E envolvo-te no vazio da saudade!
Sucumbo à ternura inflamada...
E fujo de mim!

Pôr do sol

Preencho o meu pôr do sol,
As minhas horas,
Os meus séculos
Com saudades de fim de tarde!
Vens sorrindo estrelas
E anuncias luares de Janeiro...
Contemplo-te deste lado das horas tardias
E vejo-te no espelho da ausência.
Para lá do infinito da minha alma,
Construo a ponte que me leva a ti
E agarro a mão
Que me faz atravessar oceanos de carinho!
Na orla do meu caminho para ti,
Rompo a queratina do tempo
E a cartilagem da dor,
Toco-te a serenidade,
A tua linha de horizonte que desconheço
E encontro afagos,
Vontade de encher vazios,
Asas de ternuras
Entranhadas na ausência!

Adeus

A minha madrugada
De prazeres inventados
Incendeia-se na luz real!
Ardem os laços que nos ataram,
Perco-me no labirinto das vielas que me levaram a ti!
O mapa que inventei para te encontrar fez-se cinza
E a rua por onde te passeei
Desapareceu ao fundo da minha saudade.
Mas não ficas perdido
Nesse mundo que não conheces.
Os momentos acompanhar-te-ão,
As palavras que aqui lanço
Levam-te a minha mão...
Para dizer adeus!...

Melodia a quatro mãos

No silêncio da tarde,
Soltas melodias de encantar
Na dança dos teus dedos...
Nos teus lábios,
Os acordes perfeitos
Trazem a voz das estrelas
Que aconchegam o descanso do meu corpo
Inventado em ti!
De corpos colados,
Pairam sobre mim sussurros de mãos,
Fluídos trocados,
Mistura de línguas e magias...
E os lábios,
Escorregando de paixão,
Anulam o espaço além de nós!
As nossas quatro mãos derramam-se,
Entranham-se em suspiros,
E o diapasão dos nossos corpos
Afina o ritmo desta valsa,
Composta na pauta da minha saudade.
No instante em que nos entrelaçamos,
Numa orquestra de emoções,
E tocamos de improviso
Na sintonia do desejo,
Eu invento a música que só tu saberás reger!

Escrita

Lês-me a alma inquieta,
Passeias sobre a minha pele macia,
Percorres o meu querer
E traças o meu sorriso
No desassossego de cada carícia.
Guio-te as mãos na procura das minhas formas,
Alvoroço-te os sentidos
No calor da paixão
Que a ponta dos teus dedos anima,
E adivinho os teus anseios
Nas letras da palavra saudade!
Procuro-te em cada uma,
Sonho-te nas vírgulas da minha vida
E escondo-me nua
Na seara do meu desejo!
Sonhas-me em abraços de ilusão ,
Possuis-me em cada texto que te deixo
E transpiras devaneios
Sob lençóis de papel,
Gozando em amplexos escondidos em cada linha!
Estremeces em cada afago de vocábulos,
Beijas os meus lábios de silêncio
E escutas o amor gemendo nas entrelinhas!
Toco-te com fonemas e grafemas,
Perfumo-te de segredos
Num orgasmo de saudade!

Serviço postal

Espero,
Olhando a linha do horizonte,
O nascer do meu sol...
No mar da minha alma,
O sol se pôs,
Ontem e todos os dias,
Deixando-a negra,
Porque a Lua Nova me castigou.
Hoje este mar mágico,
Repleto de sentimento,
Separa-me de ti mas,
Na serenidade destas confidências,
Consigo tocar-te,
Cada vez que mergulho nas águas da Saudade,
E respirar-te
Na maresia de oceanos de desejo!
No espelho das águas,
A brisa desenhou o teu rosto
E pintou-o de ternura!
Esta manhã,
Ofereço a colina dos meus seios ao teu amanhecer,
Sopro um beijo perfumado de paixão
E ele percorre a distância entre nós,
Embrulhado nas palavras que te envio,
Num serviço postal inexistente!

Em parte nenhuma

Recordas a tarde em que entrei no teu sonho?
De que cor me pintaste?
Que forma me deste?
Que nome procuraste no vazio dos teus arquivos?
Em instantes de eternidades desconhecidas
Recordarás os meus suspiros
Espalhados pela tua pele?
No meu reino da saudade,
Baralho a ilusão,
Perco-me no teu céu
E nas tuas memórias...
Soprei da minha vida o teu perfume
Mas o vento trá-lo de volta!
Calada,
Nas minhas alucinações,
Sei que ainda lembras o nome
De quem não existe!
Dentro de ti,
Saboreia
A doçura das carícias que te não faço,
Os beijos que te não dou
E chama por mim!
Estou em parte nenhuma...
E tu dentro de mim!...

Chave da alma

Sopra forte
O vento da saudade...
Polvilhando-me de resquícios de ti...
Refugio-me na alma
E tranco-lhe a porta...
Devoro,
Em lautos banquetes,
Doses maciças de desrecordações,
Diante das cortinas cerradas do sonho!
E bloqueio o pensamento!
Deito-me com as lembranças,
Pensando que estou só;
Aqueço-me com o desejo,
Pensando que não te quero;
Faço dormir um corpo faminto,
Pensando que está cansado...
Mas dentro da minha alma permanecem,
Teus aromas,
Teu sabor,
Teus beijos molhados...
Contraio os músculos do pensamento,
Desprendo-me das memórias,
E alieno-me no desejo e na loucura!
Dentro de mim estás tu,
Fogo que me consome...
Tenho que sair de mim...
Onde deixei a chave?!

Fóssil

De alma destroçada,
Não me conheço.
Deambulo por estas praias da vida,
Mas apetecem-me os rochedos mais além!
Olho o mar revolto,
O céu pintado de memórias
E apanho a saudade caída a meus pés!
Deambulo descalça!
O caminho que demando
É feito de areia movediça!
Cheira a mar,
Mas é lodo.
São os pensamentos de sal,
Temperando a minha recordação,
Que fazem as gaivotas soprarem maresia das suas penas!
Enquanto me afundo,
Sinto-te,
Olhando as marcas que deixaste nas minhas areias...
O vento sopra,
Sopra,
Tenta apagar as tuas pegadas...
Fossilizadas!...

Roda do tempo

Perdida,
Entre o meu mundo e o teu
Encontrei a roda do tempo.
Olhei para um lado,
Olhei para o outro...
Ninguém!
(só a saudade espreita!)
Aproximei-me!
Voltei a olhar!
Ninguém!
Num só impulso,
Fi-la rodar
(ao contrário!)
E recuei no tempo.
Entre lençóis volta a ser Verão!
Enlaças-me,
Saboreio o paladar quente da nossa paixão,
Derreto sob o calor da tua língua,
Evaporo-me sob as tuas carícias de fogo!
Nesses momentos escaldantes
Transpiramos emoções,
Deixamos arder a lucidez
Nas chamas do prazer
Que em nós lavram!
A luxúria acena-nos do corpo de cada um
E loucamente nos entregamos,
Colamos,
Fundimos
Incansavelmente...
Mas, lentamente,
A roda do tempo dá conta do erro,
Encontra-se,
E volta a chover!

Pacto

Para além dos meus sentidos
Retenho o teu sorriso,
Tacteado na avidez do desejo...
As minhas entranhas enlouquecidas
Guiam-te os movimentos
Sedentos de luxúria!
Os nossos lábios calam-se,
Colados,
Molhados...
Perdida em ti,
Procuro-te a alma,
Mas és tu quem transpõe a minha...
Aí te aninhas
E te fundes comigo!
Alucinada na minha paixão
Penso selar um pacto de Amor.
A mente sossega,
O alvoroço dos sentidos se acalma...
E de mansinho,
Ao compasso da serenata da lua,
Te entrego a minha essência!
Vais-te!
E eu percebo na Saudade:
Foi na minha pele latejante
Que deslizaste a pena
Com que assinaste o nosso pacto!

Não vieste…

Penso em ti,
Mistério de memória pintada em minha alma,
E esqueço-me de mim,
Respiro-te no Sol que me aquece
E aspiro-te nos aromas da saudade!
Procuro-te por entre as árvores do nosso jardim encantado,
Deambulo entre ramos e lianas que me impedem o avanço,
Tropeço no emaranhado das raízes que se libertam da terra…
E o gemido das folhas secas esmagadas pelos meus pés
Soa-me ao teu nome!
O perfume das flores sussurra-me que virás…
E os fracos raios de Sol
Penetrando a sombra
Desenham no chão o meu caminho para ti!
Cheguei,
Esperei
E desesperei na ânsia de ti!
Despi-me do desgosto,
Vesti-me de ânsia e carícias
E ofereci-me às tuas mãos que não vieram.
Soltei o meu desejo
E fiz dos meus dedos os teus.
Escondida entre os ramos da paixão,
Fui onde tu não quiseste ir…
Amei-me apaixonadamente
Num momento que tu não viveste!

Posse

Visto-me na sumptuosidade da Lua
Com tecidos de sombra e loucura!
Solto convites surdos,
Caprichos fantasiosos
De secretos anseios...
Pego fogo à pira das emoções
Na sede de te querer,
Na fome de te possuir...
Penso-te no arrepio da minha pele,
Possuo-te no desassossego da minha saudade invertida!
Gotículas de prazeres mútuos fogem de nós,
Instalam-se na distância,
Unem-se para lá das imposições.
Sinto o meu amplexo fluir sobre ti,
As bocas sofridas,
Entreabertos,
Os lábios gritam no instante sublime
Do prazer consumado...
Na minha alienada cegueira,
A inquietação da tua ausência esbateu-se
E ,na tentação dos sentidos,
Contemplei-te através das doces carícias que te entreguei,
Da união que projectei além de nós!

O meu tempo

A minha vida chove
Num mundo onde entrei
Sem licença para amar!
Apertei-me num canto,
Mostrou-mo o amor,
E não sei fugir.
Fez-se abrigo de loucura,
Respiração acesa,
Emoção gritante!
Inebriada,
Em cada êxtase
Deixo-me ficar...
O deleite adormece-me nos teus braços...
De abandono!
Sofri,
Sorri,
Esperei,
Desesperei!
Refugio-me na alcova da Saudade,
E sorvo-te em cada golfada de ar fresco!
Olho para trás!
No roteiro da minha vida,
Sinto-te cada vez mais perto...
Colho-te,
Em instantes de entrega,
Livre na ilusão,
Vazia na lógica...
Mas, num Universo onde a razão é a minha,
Tenho-te em cada encontro adiado,
Na solidão obscura do meu tempo em ti!

Nas brumas do sentimento

Perdi-me no teu labirinto,
Não decifrei o código secreto da tua alma...
Como uma chama viva,
Dancei em teu corpo,
Envolvi-me em mistério e fascínio...
Para te seduzir!
Perfumei-me com os teus enigmas,
Confundi-me nos teus sussurros,
Afundei-me nos teus desejos.
Perdi-me na bruma dos sentimentos,
Perturbei-me,
Confundi-me
Na sensualidade das tuas mãos!
Cada dedo
Marcou na minha alma
Uma senha secreta que só tu sabes
E na magia do meu mundo
Voei contigo,
Presa às tuas asas de anjo,
Impulsionada pelos nossos beijos!
No ar rarefeito
Tornei-me frágil!
Envolta em sentimento,
Lancei-me na descida,
Atravessei as dúvidas,
Agarrei-me às incertezas,
Aterrei na sensatez...
Dei-te a mão na saudade!

Porta da Saudades,

Perdi-te no início dos tempos,
Em fins recomeçados,
No brilho das estrelas adormecidas!
Prendi-me ao teu sorriso,
Aos meus sonhos,
Às minhas cumplicidades...
E na força poderosa das minhas tardes,
Fui cúmplice dos teus receios.
Envolvi-me na lava da nossa explosão
Em cores e odores de vulcão
Adormecido no meu ventre!
No silêncio da minha paixão,
Escondida num mundo outro,
Conjuguei todos os verbos,
Em tempos e modos desconhecidos
De entrega total!
Fecho o tempo,
Corro ao teu pensamento,
Desço ao meu,
Procuro a porta da Saudade...
Já a franqueei!

Páginas

Faço deslizar a minha vida
Entre o tempo e a eternidade,
No universo da tua pele.
O meu mundo perde a forma,
Os horizontes que a minha vista alcança,
Oblíquos e desfocados,
Estão em rota de colisão
Com a amálgama dos meus sentires...
Brotam da minha pele máscaras astuciosas,
Tolamente enformadas no desejo!
A tua pele cruza-se com a minha
No brilho misteriosos da Saudade,
E, num labirinto de carícias,
Possuo-te numa história inacabada,
Escrita pelo punho solitário do Amor.
Finjo-me analfabeta
E folheio o teu prazer
Em perguntas sem resposta,
Materializadas em sorrisos inacabados
De uma paixão incompleta,
Desenhada a ferro e fogo
Nas páginas nuas da minha alma!

Abraço adormecido

Lanço o olhar pela vidraça
E incendeio a chuva
Na desilusão do meu dia.
Deito a minha pele
Na cama vazia da minha Saudade,
E, na mistura de odores
Que o meu cérebro recorda,
Invento e reinvento a tua chegada!
Adoças a boca com o mel que dos meus seios brota
E perdes-te entre eles
Em doçuras colhidas,
Coladas,
Em mim...
Beijos,
Palavras,
Prazeres secretos,
Não cabem mais;
No dar e receber,
O limiar do desejo,
Num degrau acima de nós,
Desapareceu em aromas agridoces,
Debaixo da tua pele,
Dentro de mim!
Sem medo,
Sem receio,
Olho o mundo,
Nas tuas mãos explorando o meu corpo.
Apertada entre o desejo de ti,
Abarco o mundo no teu abraço...
Adormecido!

Pele

No roçar alucinado de tua pele na minha,
Deslizo as minhas mãos entre suores de rosmaninho
Que nos afogam a alma!
Escorro paixão em cada beijo que te dou,
Língua escorregadia,
Boca gulosa,
Saboreando a tua ternura...
Espreguiço-me nos teus murmúrios
Quando o prazer te invade ao ritmo do meu corpo,
Em impulsos empurrados ao sabor de ti!
Quero mais...
Afunda-te no meu peito,
Acaricia os meus lábios de seda,
Cheira-me a face
E memoriza os meus seios!
Queima-te na minha paixão demente
Inventada ao crepúsculo de cada dia,
Reinventada em cada nascer do sol,
Moldada e ajustada à minha saudade húmida,
Entranhada em mim,
Esquecida em ti!

Não te sei

Voo para lá das minhas asas
E tento encontrar-te no mar de um dia...
Debalde!
Não te sei em mim,
Não te sei o onde,
Não te sei o porquê do não!
Quero!
E não sei dizer-to!
Iludida na saudade,
Vivo cada recordação!
Não esqueço o calor dos teus lábios,
A ternura da tua língua pela minha pele,
Mãos apertando,
Apertando
Um vulto de luxúria...
Mais,
Muito mais,
Mais...
Mas não te sei!
Projecto-me na minha ilusão
E voo para lá do próprio sonho!
Em palavras secretas te confesso
O meu mistério,
O meu segredo!
Invento cores para o teu rosto
E para a tua posse...
E deixo-me possuir!

Não te esqueci

Entrego ao Universo desejos,
Sonhos,
Recordações,
E um mundo inteiro de saudade…
Nesta chama eterna
Que ateaste em mim
Me vou consumindo…
O teu mistério envolvente,
O fascínio dos teus enigmas,
Numa contínua perturbação
Da minha alma,
Conduzem-nos ao curto instante
De um tempo passado!
Não esqueci o caminho das tuas mãos
Em mim;
Não esqueci a seda dos teus cabelos
Em meu rosto;
Não esqueci o gosto dos teus lábios
Nos meus;
Não esqueci a doçura do teu corpo
No meu;
Não te esqueci
Em mim!

Já não sei a tua música

Incendeio o ar com os beijos que não dás,
Apago-o no silêncio,
Na recordação
E na saudade
Dos que me deste…
Mas a música calou-se,
Os teus dedos já não deslizam
No teclado da minha pele!
Grito emoções,
Paranóias,
Desejos entranhados,
Despidos à força…
Abandonados pelos teus braços
Estão hoje as emoções
E o meu coração!
Numa mistura de odores,
Distingo os teus,
Únicos,
Intensos,
Recheados de paixão,
Numa bruma perfumada
De Amor em Dó Maior!
Perturbada, procura o Sol
Mas prendeste os meus dedos
E a minha voz!
Não o encontro…
Já não sei a tua música!

Manhã sem ti

Na semente da Saudade, colhida na tua ausência,
Busco recordações de mel
Escorrendo dos lábios,
Vertigens nuas,
Arrepios de paz
Ceifados no meu coração,
Quando as tuas mãos deslizavam sobre o meu peito
E se calavam escutando o seu ritmo apressado!
Debruçado sobre a minha alma,
Colhias carícias
De tardes despudoradas,
Mágicos encantos,
Seduções em abraços extasiantes...
Em fulgor que roubei ao Sol
Tentei iluminar a tua vida,
Tecer-lhe sorrisos...
Polvilhei-te o corpo de centelhas de prazer
E amanheci sem brilho
Na manhã sem ti!

Palavras

Faltam as palavras em ti,
O vazio abarrota de silêncio
E só nos ouvidos da Saudades,
Ouço o deslizar dos teus dedos
Em notas lisas de paz!
Peço ao tempo que me traga palavras que nunca ouvi,
Sonhos que não vivi,
Que me sussurre o amor que não tive...
Mas, na multidão do léxico,
A palavra perdeu-se
Entre o que eu quis e o que tive!
Ponho os meus olhos a dizer poesia inventada à pressa
E os meus ouvidos a calar indefinição...
Declamam para ninguém!
Abraçados no mesmo querer,
Transpiram em danças inquietas,
Escondidos entre as cores da minha Paixão!
Faltam-te as palavras...
Escrevo-as em mim...
Por ti!

Vou riscar o teu nome

Da Lua Cheia
Vou fazer o meu universo,
Da Lua Nova, a minha passagem por ele,
E da minha janela,
Em forma de Quarto Crescente,
Vou deixar de te espreitar!
Da expressão da saudade
Vou riscar o teu nome,
Abrir os meus olhos para a brisa fresca da noite
E sorver as pequenas gotas de amor
Que o orvalho do meu Verão
Me proporcionar!
As minhas mãos,
Apertando as tuas de longe,
Vão soltar os teus dedos,
Um a um,
Até à Liberdade!
A minha boca trespassando a distância,
Vai sorrir-te
E soltar-te os lábios!
A tua alma reconhecer-me-á,
Enlaçada na escuridão de uma noite mágica,
Invadindo a outra face da saudade...
Quando ambas se cruzarem serei feliz!

Vem...

Vem deitar-te no meu regaço,
Vem ouvir o deslizar das ondas nos meus lábios
Contando histórias de amor e paixão,
Vem...
Deixa a tua pele estremecer,
Deixa que meus dedos deslizem,
Destilem suspiros no contorno suave de teu rosto...
De lábios húmidos,
Ansiosos,
Desejo afogar-me nos teus...
Escorrego pelo teu peito ternuras de penas macias,
Cisnes brancos navegando no teu desejo,
E oiço o teu coração sobressaltado
Disparar na sedução!
Procuro o toque macio das tuas mãos
Mas elas saboreiam outro silêncio!
Segredo a mim mesma:
Saudade,
Passeia-me na sua alma,
Solta-me dentro do seu não ser!

O meu presente

Recebo um presente do Universo,
O meu passado,
E no presente encontro apenas o eco do que fomos!
Recordo as tuas mãos nas minhas,
A tua boca descobrindo a minha,
A tua voz traçando conquistas
Dentro da minha escuridão.
Enlaço-te na tarde mágica da sedução
E ouço o sorriso límpido do Sol
Traçando um caminho que percorreste dentro de mim!
Assola-nos o desejo
E no teu radioso sorriso
Entras no meu sonho...
Cruzas o instante de magia
No momento em que os teus lábios
Pousam nos meus!
Os nossos caminhos separam-se,
Saíste do meu presente,
Mas sou feliz sabendo que existes.

Louca

Na minha casa abandonada
Há vidraças partidas
E estilhaços que se me fixaram no peito...
Pelas portas escancaradas
Corre o vento
Fustigando-me a alma.
Traz consigo o teu perfume
E a tua imagem!
Componho uma personagem de louca
Sentada na soleira da porta
E prometo vestir,
Todos os dias,
O meu rosto de cores diferentes,
A minha alma de tristeza ou alegria,
O meu coração de amores ou desamores!
À laia de palhaço
Chorarei rindo,
Rirei chorando
Na saudade da tua cor!

Saudade

Dobram os sinos!
Dos ingredientes raros que te compunham,
Guardei-te a alma
Entre um beijo e uma carícia inventada!
Guardei o teu manso deslizar,
Guardei tanta coisa na Saudade
Que quase me afoguei nela!
Submersa nos desejos,
Tornei-me a tua noite
E vagueei nos teus cheiros húmidos...
No fundo da minha dor,
Encontrei a despedida,
Ofereci um sorriso à nostalgia,
Deslizei pelas labaredas da dor,
E nas estrelas de outro céu,
Te sussurrei de longe
Gotas de paz!
Soltei a minha alma,
Emergi da paixão,
Voltei a respirar
E afoguei a saudade.
No lume da ternura calma,
Ergui uma pira,
Coloquei lá a dor e a saudade,
Peguei-lhe fogo...
Espalho as suas cinzas pelo oceano
Quando os sinos se calam!